22.12.08

Malucos do Riso

Por João Paulo Guerra
O PSD começou a apresentar os candidatos às autárquicas de 2009, procurando marcar o terreno a grande distância das eleições.
E UMA das apresentações mais sonantes, capaz de animar o lúgubre cenário político português e em particular da direita portuguesa, foi certamente a do actor dos Malucos do Riso [ver, p. ex., aqui]. Em Portugal sempre se tem manifestado uma chamada “esquerda festiva”, mas a direita é quase por definição azeda, taciturna e rezingona. Mas tem excepções.
Com efeito, o candidato dos Malucos do Riso confirma uma realidade que poderia estar a cair no esquecimento após três anos de laranja amarga: a de que o PSD, quando quer, é um partido danado para a brincadeira, mesmo hilariante, dado a episódios e trapalhadas que aproximam a política mais da comédia que do drama. E nos tempos que correm, para drama bem basta a crise. Portanto, vamos à comédia.
A candidatura PSD dos Malucos do Riso é um desafio a outras forças políticas que, por regra, também não têm graça nenhuma. O desafio de pôr Portugal a rir às gargalhadas com uma verdadeira “Campanha Alegre”, “um riso imenso, trotando, como as tubas de Josué, em torno a cidadelas que decerto não perderam uma só pedra, por que as vejo ainda, direitas, mais altas, da dor torpedo lodo, estirando por cima de nós a sua sombra mimosa”, como terá dito Eça citado por Ramalho.
Espera-se pois a resposta do leque partidário. Avançando o PSD com Malucos do Riso, irá o PS recuperar a Parada da Paródia? Certo é que o desafio eleva a parada a um nível de paródia raramente vivido na política portuguesa. A grande questão é que já antes da crise Portugal era o país europeu mais endividado. Mas – esquerda e direita estarão de acordo – tristezas não pagam dívidas.
«DE» de 19 de Dezembro de 2008.
Conforme combinado com o autor da crónica, será atribuído um exemplar de Os Pândegos ao autor do melhor comentário que venha a ser feito a esta crónica até às 20h da próxima sexta-feira, dia 26.
Actualização (28 Dez 08/14h40m): um dos elementos do júri foi de opinião que o prémio deveria ser atribuído a "anjac". Por sua vez, JPG diz: «Acho que o prémio não deve ser atribuído, por uma simples razão: o texto não se referia ao candidato do PSD de Vila Franca mas ao de Lisboa. Provavelmente o problema foi meu: como alguns governos tive um problema de comunicação».
Assim, e para desempatar, o webmaster pede a "anjac" que, nas próximas 24h, escreva para sorumbatico@iol.pt indicando morada.

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3 Comments:

Blogger Carla Simões said...

Efectivamente nos tempos que correm e com a crise a bater-nos à porta insistentemente a cada dia que passa, o melhor será que o panorama político nacional se transforme numa grande comédia para animar as pobres gentes deste país europeu que está financeiramente em colapso... E não digam que isso é uma comédia, porque não é... Contra factos não há argumentos, e realmente a situação económica portuguesa está longe de provocar risos nas caras dos portugueses (salvo algumas excepções, que ainda se dão ao luxo de comprar carros de luxo, moradias de férias em zonas luxuosas e apartamentos fenomenais em condomínios privados... Esses sim ainda podem esboçar largos sorrisos e gargalhadas sonoras!) Por isso aguardemos ansiosamente os próximos meses de campanha política, os ataques ora da esquerda ora da direita, os mexericos na Assembleia, pois esses sim poderão ser momentos de verdadeira pândega, propícios ao esquecimento da crise que nos assola!

22 de dezembro de 2008 às 22:59  
Blogger João Rodrigues said...

Pagode na política portuguesa não é nada de novo. De vez em quando recebemos episódios novos vindos da Madeira. A viagem dos deputados a Sevilha, para ver o F.C. Porto na final da Taça UEFA, com o argumento (que serve para tudo) do trabalho político. Sem esquecer o exemplo clássico das sornas de Mário Soares na sala do parlamento, mostrando o respeito que ele tinha pela assembleia. Por isso, a escolha de um actor para candidato a presidente de câmara não nos devia surpreender. Talvez seja melhor, pois teremos um profissional da comédia em vez de amadores.

26 de dezembro de 2008 às 14:26  
Blogger carlos ponte said...

Nos anos 90 do século passado, pouco depois da implosão – desculpem mas é este o termo que se costuma empregar e eu não quero ser desmancha-prazeres – da União Soviética, uma esconsa República dos confins da Ásia, tornada independente após o cataclismo – estou a referir-me à implosão –, decidiu homenagear o marxismo-leninismo. O governo deu instruções aos correios para que editassem dois selos comemorativos: um com efígie do Groucho Marx e o outro com a do John Lennon. Desconheço se a vida na dita república tem corrido bem, não me recordo, até, da república onde isso aconteceu, mas do que me lembro, com grande nitidez, é do que pensei depois de ouvir o Fernando Alves a contar a história: um país que consegue tratar desta forma os seus fantasmas merece toda a sorte do mundo.
Vem isto a propósito do cinzentismo que grassa por cá e que toda a mente mais arejada, digamos assim, deveria abominar. Bom, isto sou eu que penso.
Embora de quando em vez, se descortine um ou outro lampejo de boa disposição, as mais das vezes, ouvir os nossos políticos é uma prova que só os mais estóicos conseguem ultrapassar tal é o enfado que os ditos provocam no comum dos mortais. E até nem é por falta de capacidade de grande parte do pessoal já que algumas vezes tem dado provas de estar à altura da empresa. Deviam era cultivar esse modo de fazer política e não o utilizar apenas de vez em quando. Exemplos não faltam. Começando pelo primeiro-ministro: usa um humor muito subtil que só os mais avisados entendem e isso é pior do que não usar nenhum porque as pessoas pensam que ele está a gozar com elas: “Em 2009 os portugueses vão viver melhor. Terão mais dinheiro na carteira porque a taxa euribor está a baixar, a taxa de inflação também e a gasolina idem”. Enfim, humor deste não deveria ser para fazer no jornal das 13, quanto muito aos comensais da Fundação Luso-Americana. Continuando para o ministro da economia: tem umas tiradas hilariantes que dispõem bem mas peca pelo reportório que é muito pouco diversificado e está a ficar gasto, limitando-se, praticamente, a anunciar fins de crise. Um terceiro exemplo do governo: o ministro das obras públicas: o verdadeiro “entertainer”. Tem criado os melhores sketches da política – “os camelos da margem sul” continua a liderar o top mas tem muito mais criações. Infelizmente, a sua veia criativa tem sido esganada pelo patrão que só o deixa largar uma das dele quando o rei faz anos e isso para nós sabe a pouco, a muito pouco. Para quem aprecie, há ainda aqueles que cultivam um tipo de humor que, pessoalmente, não gosto mas que tem alguns adeptos no governo, a começar pelo chefe: estou a referir-me ao humor negro. Expoente máximo deste tipo a ministra da educação: “Perdi os professores mas ganhei a opinião pública!”, continua a ser o que de melhor se tem produzido no género.
Dando, agora, uma vista de olhos à Assembleia vemos, com tristeza, que o panorama é, ainda, mais desolador. Nada se lá passa que nos possa prender a atenção. E há tanto material para explorar: pense-se, por exemplo, o que o Paulo Rangel podia fazer de bom se utilizasse aquela sua vozinha de barítono para dizer coisas que, realmente, tivessem interesse ou então o roufenho do Paulo Pedroso se, em vez de se quedar mudo na última fila do anfiteatro, desatasse a contar anedotas, ou a contar a vida dele, se assim o desejasse. Seria de aconselhar, também, um exercício de restyling a alguns políticos. Assim de momento, aconselhar-se-ia um punhado de gel no tufo de cabelo que o Diogo Feio tem logo acima da testa: aquele cabelinho espetado, com toda a certeza, faria furor no hemiciclo e alguns votos nas urnas. O Fazenda se trocasse todas aquelas camisas esquisitas e pedisse ao barbeiro que lhe cortasse a barba ganhava em luminosidade. Sempre que o vejo dá-me a impressão que a lâmpada do projector está fundida. Finalmente o Jerónimo. Deviam deixá-lo falar durante mais tempo: é que já reparei que só começa a espumar quando fala, no mínimo, 20 minutos.
Enfim um imenso bocejo…
Por estas e por outras, se fosse de Vila Franca, nas próximas autárquicas, votaria Malucos do Riso.

26 de dezembro de 2008 às 16:19  

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