24.11.08

«Berlusconis» lusitanos

Por Alfredo Barroso
SE AS VERDADES POLÍTICAS são como as carecas, então poderá dizer-se que alguns barões predadores da democracia portuguesa estão a ficar com as suas fortunas ao léu.
Como é que eles conseguiram acumular tão rapidamente pés-de-meia tão grandes, se não à custa dos seus contactos políticos e de um escandaloso tráfico de influências?!
Guardadas as devidas proporções, seguiram o exemplo de Berlusconi, o barão predador italiano que singrou na politiquice e nas negociatas graças à extraordinária habilidade de vendedor de carros em segunda mão e ao charme de cançonetista de cruzeiro estival.
Como explicou há um século o grande economista americano Thorstein Veblen, estes barões predadores constituem uma «classe ociosa» que não hesita perante a mentira, a fraude, a falsificação, a manipulação e a corrupção, para acumular lucros especulativos e riquezas improdutivas. A sua divisa é o lema de Ivan Boesky, um dos mais célebres vigaristas a singrar em Wall Street: «Greed is good» («A ganância é uma coisa boa»)!
O problema é que, como diz o escritor italiano Andrea Camilleri, Berlusconi «limita-se a interpretar perfeitamente o mau humor e o mal-estar das pessoas» e a convencê-las de que, qualquer dia, também podem vir a ser como ele. Em suma, parafraseando Veblen, o que as pessoas desejam é imitar os «Berlusconis» de trazer por casa, numa irresistível atracção pelo exibicionismo, o narcisismo e a afectação típicos da «classe ociosa».
Ainda há dias vimos um Berlusconi lusitano a tentar justificar em público a sua fortuna, com a arrogância, a displicência e o sentimento de impunidade típicos de um arrivista. Não hesitou em contradizer-se e em mentir. Só lhe faltou cantar o «Only You»!
NOTA: Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Traço Grosso.

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2 Comments:

Blogger mafegos said...

Penso que existe aqui uma grande diferença,o Berlusconi chega a primeiro-ministro já riquissimo e provavelmente ,com o poder das suas televisões.
Em Portugal os tipos chegam tesos e ficam milionários,é o caso daquele tipo que telefonou"ó mãe já sou ministro"mais conhecido por Dias Loureiro ou até um Miguel Cadilhe e muitos outros.Nestes últimos anos sinto-me cada vez mais longe desta politica,porque foi também,com o meu voto,que estes tipos foram governo,sou do PSD.
Mas não olhe só para a direita,a esquerda tem tantos rabos de palha ,a começar pela UGT,pelo inenarravél Saleiro,pelas melancias e melões,pelas orientais fundações,como diria o outro,xi patrão,já chega.

24 de novembro de 2008 às 11:35  
Blogger Jorge Oliveira said...

O Berlusconi é um daqueles magnatas que estiveram no Palácio de Belém em princípios de 1986, não é ? Parece que foi o primeiro de um grupo de notáveis a ser recebido: Silvio Berlusconi, Rupert Murdoch, Robert Maxwell e Stanley Ho.

Seria para exercitar um escandaloso tráfico de influências, à custa de contactos políticos? Há quem acredite que sim.

E Berlusconis lusitanos há muitos. A diferença é que uns, quais oportunistas de vão de escada, actuam em separado, ou em pequenos grupinhos, e quando são apanhados com as calças na mão, têm de ir à TV tentar justificar em público a sua fortuna.

Outros, mais sabidões, têm a arte de se proteger em organizações que, como dizia hoje o Alberto João (no meio de muito disparate vai dizendo umas coisas certas) são verdadeiras seitas, que mais parecem máfias sicilianas. Esses podem passear a sua arrogância e displicência com verdadeiro sentimento de impunidade.

Entre uns e outros, julgo que os segundos são mais perigosos.

24 de novembro de 2008 às 21:46  

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