28.10.08

Paraíso

Por João Paulo Guerra
Há quem chame ao Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina o Último Paraíso do litoral português.
O DRAMA É QUE A DESIGNAÇÃO mais adequada parece ser a de Paraíso Perdido. Não faltam notícias sobre projectos para fazer da região o que os assassinos da paisagem fizeram da costa sul do Algarve: um inferno de betão, alcantilado sobre falésias, superlotado, a morrer em função da erosão irremediável do litoral. Depois virão as consequências seguintes, entre as quais a escassez de água potável, como já aconteceu no Algarve e acontece nas costas de Espanha. Mas, entretanto, até lá chegarmos, alguns se encherão de dinheiro por conta da morte anunciada do litoral. E o que verdadeiramente interessa é o negócio, com a sua teia de compromissos, contrapartidas e comissões.
Ninguém parece ter aprendido nada com os erros cometidos na costa sul do Algarve. Os promotores imobiliários fazem o seu papel, procurando cada centímetro onde ganhar o máximo de dinheiro rapidamente e em força. Mas inaudito é o papel dos autarcas, defendendo por regra os interesses da ganância imediata contra os do futuro do país e das regiões. Os autarcas da região não fogem à regra. E a mais recente notícia sobre a chacina do litoral dá mesmo conta da declaração do presidente da Câmara de Odemira a defender a construção nas falésias da Zambujeira do Mar. Depois há a teia imensa de diplomas e planos, um emaranhado que se contradiz e desdiz, que põe e contrapõe, criando de facto a confusão necessária para que a única lei aplicável seja a da selva.
O que mais indigna em toda esta tramóia é que não haja poder ou instituição, do alto da sua magistratura, que faça algo de decisivo para travar a monstruosidade que se anuncia e não se limite a declamar uns pífios lamentos por um paraíso que vai tornar-se um inferno.
«DE» de 28 de Outubro de 2008

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1 Comments:

Blogger Fernando Sosa said...

A Costa Vicentina é por aquilo que conheço - concelhos de Sines e Odemira - um verdadeiro paraíso. Adoro tudo o que a distingue do Algarve: confusão, multidões em espaços reduzidos, ostentação de quem mal tem comer no prato, etc. As suas paisagens naturais são magníficas e a diversidade da sua fauna é digna de registo. Até as típicas aldeias e vilas alentejanas costeiras têm as suas próprias formas e cores.
Será de facto uma pena assistir à ganância triunfante mais uma vez, ainda para mais numa região que marcou uma fase da minha vida como acredito que tenha marcado a de muita mais gente (até Rui Veloso canta «Porto Côvo»). Infelizmente a corrupção singra neste país e as autarquias são um óptimo exemplo.

Será que mais uma vez vamos ficar a ver a destruição irreversível de uma das maravilhas portuguesas? Temo pelo pior...

28 de outubro de 2008 às 18:04  

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