28.9.08

Urgência

João Paulo Guerra
O pluralismo é assim mesmo. Cada um pode dizer o que bem entenda, pois haverá sempre quem diga o contrário.
E FOI ASSIM que tendo António Arnaut, o autor da lei do Serviço Nacional de Saúde, declarado que o ex-ministro socialista Correia de Campos foi quem deu “a machadada final” no Serviço Nacional de Saúde, o próprio ex-ministro tem vindo com insistência a manifestar opinião diametralmente contrária, altamente favorável à sua actuação na alegada reforma do serviço público. Não havendo quase ninguém para louvar a sua obra – coroada com o afundamento em todas as sondagens de opinião e com o despedimento do Governo –, louva-se Correia de Campos num livro acabado de publicar e em entrevistas que se multiplicam a propósito da iniciativa editorial.
Em palavras, o ex-ministro é agora tão socialista como no PREC foi gonçalvista. Acontece que há mais alguma coisa, para além das palavras, para avaliar hoje o ex-ministro da Saúde. Há uma sistemática liquidação de estabelecimentos e serviços públicos de saúde, em localidades onde, obviamente por coincidência, se aprontam ou perfilam alternativas privadas. E ninguém convence ninguém que os privados avancem onde não haja potenciais utentes em número suficiente para responder à oferta de serviços e estabelecimentos de saúde.
Ontem, em entrevista ao 24 Horas, o ex-ministro verteu o derradeiro argumento a favor da sua alegada dedicação ao Serviço Nacional de Saúde: “Se tiver um acidente na rua peço por tudo que me levem a uma urgência pública”. O ex-ministro que peça principalmente às alminhas que, no caso de se verificar tão infausta como indesejada situação, a urgência pública mais próxima não tenha sido fechada durante o seu consulado.
«DE» de 26 de Setembro de 2008 - c.a.a.

Etiquetas: ,