25.9.08

Touros de morte e tradição

Por C. Barroco Esperança
O FORAL DE BARRANCOS é um anacronismo que pôs fim ao folclore mediático que levava forasteiros e provocadores ao paupérrimo concelho alentejano. Com um golpe de rins tentou pôr-se cobro ao desafio à lei e justificar, com a tradição, um acto bárbaro. Foi uma decisão que desonrou quem a subscreveu.
Os touros de morte, tal como as lutas de galos, cães e outros espectáculos de violência, que estimulam a crueldade e põem em delírio indivíduos que encontram aí a forma de fazerem a catarse das suas frustrações, são um sinal de atraso civilizacional e um mau sintoma da saúde cívica de um povo.
A tradição é o argumento mais abominável que pode ser invocado. Desde as lapidações e vergastadas, que ainda hoje se aplicam sob os auspícios do Corão, até à violência doméstica nos lares cristãos e à pena de morte mantida com zelo evangélico nos EUA, todas as abjecções se podem justificar em nome da tradição.
A euforia com que na Idade Média se aguardavam os churrascos de bruxas e hereges ou o entusiasmo com que se compravam escravos, dá-nos ideia dos sentimentos perversos que a civilização reprimiu.
A morte do touro em Monsaraz, uma reedição da farsa de Barrancos, foi um sintoma do atraso de uma população mais medieval do que a encantadora vila alentejana.
Condescender com estes espectáculos bárbaros, estimular ou simplesmente ignorar este desafio à lei, é ser cúmplice da manutenção de tradições que nos envergonham como povo e nos aviltam como cidadãos.
Perante a reincidência destas diversões boçais e marialvas recordo-me sempre do turista que, antes da tourada, viu um sujeito a serrar os cornos a um touro e lhe perguntou: «também gostava que lhe fizessem o mesmo»?
NOTA: outras crónicas do mesmo autor encontram-se no blogue Ponte Europa.

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3 Comments:

Blogger Táxi Pluvioso said...

Os portugueses são um povo atrasado e com poucas possibilidades de alguma vez serem outra coisa. Com 800 anos de História, sem nunca terem feito algo digno de nota, (excepto igrejas, na monarquia e estradas e casas do povo - chamam-lhe agora centros culturais - na república), não se prevê que comecem agora.

25 de setembro de 2008 às 11:37  
Blogger Miriamdomar said...

Em nome da tradição e em nome da religião ,cometem-se as maiores aberrações e crimes contra os seres vivos!
Isto ,para não falar só contra a humanidade!O que me levaria a não saber, quando parar de escrever!
Infelizmente ,há quem pense que mantendo certas tradições, é manter a história de um povo viva!
Mas quais tradições?
Aquelas que não respeitam os animais como seres vivos!
Já experimentaram, pôr-se na pele de um toiro, torturado até á morte?
Já experimentaram, pôr-se na pele de uma criança que presencia um horror desses?
Já experimentaram, ser seres humanos?

25 de setembro de 2008 às 19:51  
Blogger Carlos Esperança said...

Agradeço os comentários e registo com satisfação que sou acompanhado na repulsa pela violência gratuita.

26 de setembro de 2008 às 17:57  

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