24.7.08

Etnias

Por Joaquim Letria

NA QUINTA DA FONTE vai ser difícil resolver as questões levantadas a tiro. Aquilo é entre etnias. E de etnias não há cá quem perceba. Na ditadura, havia o Dr. Pinto Bull, ilustre deputado da Nação e um dos poucos negros licenciados. Era ele e o Dr. Nazareth, cardiologista negro de olhos verdes que garantia que Salazar tinha coração.
Na Televisão havia o Adriano Parreira, um preto que dava notícias como os brancos.
Hoje não há um único deputado de cor, no Governo e na RTP nem pensar, depois dos retornados e africanistas terem tomado conta disto. Até a Assembleia da República perdeu a sua pérola do Ganges, que era o Dr. Narana Coissoró...
Hoje, a AR só tem etnia caucasiana, e tão caucasianos são eles que os portugueses ignoram se são moldavos ou ucranianos, tanto os deputados têm a ver connosco!
Na Quinta da Fonte aquilo só se resolve quando os pretos falarem com os ciganos e vice-versa. Enquanto os caucasianos meterem etnias nisto, não se vai a lado nenhum.
«24 Horas» de 24 de Julho de 2008

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2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Já agora, aqui fica uma crónica de Mário Crespo, sobre o mesmo assunto, publicada no «Jornal de Notícias» do passado dia 21:

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Limpeza étnica

O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.

"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..."

Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos autodesalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures:

Uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência.

A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades.

O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário.

Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e autodenominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.

24 de julho de 2008 às 19:47  
Blogger platero said...

fala-se de etnia cigana

e os seus primos genéticos tendeiros? não será discriminação
não lhes atribuir semelhante categoria de ETNIA?:

cidadãos de etnia "TENDEIRA"?

vamos lá!

29 de julho de 2008 às 22:45  

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