31.3.08

«Público» de 30 Mar 08
PELOS VISTOS, apesar de o filme estar em exibição há mais de uma semana (e ontem a sala aonde o fui ver estava praticamente esgotada), só um dos quatro críticos do «Público» se deu, até agora, ao trabalho de o ver - ou, pelo menos, de o classificar.
Note-se que não comento o facto de eles poderem achar que o filme é bom, mau ou assim-assim. Não serei competente para tanto. O que acho é que, tratando-se de um filme que divulga (fazendo-o honestamente, a meu ver) uma obra-prima de um prémio-Nobel da literatura contemporânea, mereceria ser visto e classificado, quanto mais não fosse com uma bola preta.
Pelo menos, foi devido a ele que eu li o livro pela segunda vez (resolvi fazê-lo antes de ver o filme) - e só por isso já dei por bem gasto o tempo e o dinheiro.
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NOTA: fica-se com a ideia que o filme perde um pouco por tentar ser fiel ao livro até aos mais pequenos pormenores (incluindo, no que toca aos diálogos, frases inteiras tal como foram escritas), faltando-lhe o tempo para tudo (o romance tem mais de 360 páginas); a dobragem em inglês também soa mal (todo o romance se passa na Colômbia), e na boca da "nossa" Fernanda Montenegro ainda pior.
De qualquer forma, acho que quem leu o livro não há-de desgostar de ver o filme e - mais importante ainda - o inverso também é capaz de ser verdade.
Finalmente: o trailer pode ser visto [aqui].

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8 Comments:

Blogger Rui Diniz Monteiro said...

Partilho da sua opinião e da sua perplexidade: já me ocorreu pensar que uma pessoa infeliz não pode gostar deste filme, nem sentir-se confortável com ele - daí o silêncio sobre ele.
Acrescento que li o livro há muitos anos, vi agora o filme e estou a reler o livro: não se embaciam mutuamente, antes se iluminam sem parar. Dito de forma simples: adorei o filme, estou a adorar o livro!

31 de março de 2008 às 18:16  
Blogger R. da Cunha said...

Ainda não vi o filme, além do mais porque tenho receio de ficar desencantado, como me tem acontecido outras vezes. É que considero o livro uma das pérolas da literatura mundial. Mas depois de ler o post e o comentário, talvez me decida.

31 de março de 2008 às 18:29  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O filme, porventura por falta de tempo, não esclarece alguns aspectos, mas também não são importantes:

P.ex., a falsa fama de gay que o Florentino adquire, tem a ver com o facto de ele levar para o bordel senhoras que, para não serem reconhecidas na rua, se disfarçavam de homens.

Os tiros de canhão eram dados porque se julgava que afastavam a cólera.

O papagaio (responsável pela morte do Dr. Juvenal Urbino) tem direito a páginas deliciosas no livro (nomeadamente quando cai na panela da sopa e grita «Homem ao mar!»).

A garota que aparece logo no início e no final, suicida-se.

Nunca chega a aparecer a personagem do suicida, xadrezista famoso, com que o livro começa.
Mas também não faz falta.

As cenas com militares nas ruas não se percebem, se não se souber das guerras civis permanentes lá na terra (referidas pelo GGM noutras obras).

O tio do Florentino, apresentado no filme como chamando-se Leão é, no livro, Leão XII, pois havia, na família, a mania de dar nomes de papas à rapaziada.

No filme, mostra-se a fúria da mulher do Juvenal quando sabe que ele tem uma amante, mas omite-se o desabafo: «Ainda por cima é preta!».

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Mas nada disso tem mal nenhum; num filme, tem mesmo de haver esses cortes e essas adaptações.
Poucos haverá como «O Leopardo», em que Visconti repete tim-tim por
tim-tim o livro, com um pormenor como não deve ter havido outro caso na história do cinema.

31 de março de 2008 às 19:04  
Blogger Irina Melo said...

Adorei o livro, como quase todos os dos brilhantes escritores latino-americanos e especialmente de Garcia Marquez, e espero ver o filme em breve. Quanto às estrelas dos críticos do Público, há muito deixei de os entender...

31 de março de 2008 às 23:44  
Blogger GS said...

Raramente me guio pelas críticas! Muito menos pelas estrelas!! Ou melhor nunca!

Tenho sim, princípios 'básicos'muito próprios:
realizador, obras [adaptadas], histórias/estórias, actores [que obedecem a questões subjectivas de qualidade], fotografia, bandas sonoras!

Dificilmente perco um filme que tenha por base uma obra literária! Por defeito :)

E este, não estaria arredado de modo algum!

...não reli o livro. Preferi partir para o desvendar de uma nova 'leitura'... não esquecendo, evidentemente, que se trata sempre de uma 'leitura cinematográfica'!

Fica muito longe da obra-prima da literatura universal [independentemente de se tratar de um 'Nobel']... era impossível! Peca por vários aspectos, alguns já explanados aqui, mas não dei por perdido o tempo!

Foi uma 'possível/subjectiva visão... esperava um pouco mais, é certo!
Ouvira uma entrevista com Bardem, parecera-me aí convincente, não no filme!

Adorei a fotografia! Esplêndidas paisagens colombianas numa olhar lindo de quem as captou!

Márquez rondou por ali...

1 de abril de 2008 às 02:24  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

A minha mulher foi ver o filme comigo.
À noite, interrompeu o livro que andava a ler, pegou no romance e ainda não o largou.

Pois bem; se for esse o efeito do filme numa razoável percentagem de espectadores (e mesmo que, cinematograficamente, possa ser considerado mau), já valeu a pena ter sido feito.

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Curiosidade:

Todos nos recordamos da discussão que ocorreu aquando da chegada do ano 2000: discutia-se muito se o séc XXI começava a 1 de Janeiro de 2000 ou apenas em 2001.

Esse problema parece não ter sido muito discutido 100 anos antes, pois em 1 de Janeiro do ano 1900 comemorou-se a (suposta) entrada no Séc. XX, a acreditar no que se lê no romance e se vê no filme.

1 de abril de 2008 às 10:36  
Blogger Mr. Shankly said...

Já li o livro duas vezes (um dos poucos em que o fiz), mas ao contrário do fragmentos culturais, temo as adaptações de livros geniais. Estou na dúvida se irei ou não...
"O Leopardo" é, na minha opinião, um dos raros casos em que o filme não é inferior ao livro.
"O Carteiro de Pablo Neruda" é um caso raríssimo em que o filme ultrapassa largamente um livro muito fraquinho.

1 de abril de 2008 às 11:23  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

N' «O Leopardo», sucederam duas coisas curiosas:

1-O filme segue o livro ao milímetro, mas termina "antes", poupando-nos à parte final, a da velhice das meninas.
Mas não perde nada por isso.

2-A versão que passou recentemente (com 3 horas de duração e sem intervalo!) é a «director's cut».
A que vimos nos "anos 60" era muito mais curta, e não só devido à Censura.
Escusado será dizer-se qual é a melhor...

1 de abril de 2008 às 12:29  

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