28.9.07

UNS FALAM E A OUTROS CORTAM O PIO

Por Ferreira Fernandes
NA POLÍTICA AMERICANA há um termo, filibuster, a que a tradução imediata - flibusteiro, pirata... - não nos leva lá. Trata-se de um político que fala, fala, até conseguir impedir uma lei. O maior maratonista filibuster foi Wayne Morse que falou no Senado durante 22 horas e 26 minutos, em 1953, para combater uma lei sobre petróleo. No estado do Oregon há uma praça, chamada Liberdade de Expressão, com a estátua de Wayne Morse, tamanho natural e dedo espetado de bom tribuno. Comparado com ele, Hugo Chávez, o Presidente da Venezuela, pode parecer preguiçoso mas é mais eficaz. No domingo, Chávez bateu o seu recorde: oito horas de discurso! Com essas escassas horas ele não impede uma lei mas consegue inviabilizar um país inteiro.
Por ironia, a notícia deste recorde de Chávez chega-nos quando temos uma polémica sobre a faladura de um nosso político: cortaram o pio a Santana, não por exaustão do próprio mas pela chegada de um treinador. Eu mandava Mourinho para Caracas.
«DN» de 28 de Setembro de 2007-[PH]

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não há nada que prove que a Venezuela esteja inviabilizada enquanto país que constrói uma alternativa ao modelo neo-liberal global, que em 20 anos só tem criado miséria em todo o mundo. Curiosamente, o fenómeno Chavez é um sub-produto da reacção ao modelo de concentração de riqueza e poder nas elites sociais, à custa das classes médias e da população mais pobre. Que se tivesse de enveredar pelo caminho do populismo de esquerda, é uma pena. Mas a Venezuela estava bem pior quando era governada pela direita de matriz neo-liberal, para a qual a democracia é um embaraço.

28 de setembro de 2007 às 16:16  
Blogger bananoide said...

A distribuição da riqueza e a liberdade de expressão não são mutuamente exclusivos. Hugo Chavez quer a primeira, já a segunda é ligeiramente incómoda... Estou-me a referir à "não renovação" da licença da RCTV, o 2º canal de TV mais visto e manifestamente crítica de Hugo Chavez.

Este é apenas um dos atropelos às garantias que existem em democracia. Podíamos estar aqui o dia todo a falar de outros atropelos, mas acho não vale a pena.

O extremismo é uma coisa sempre negativa. Quer seja à esquerda, à direita, na religião ou no futebol.

28 de setembro de 2007 às 17:14  

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