28.7.07

A entrevista de Saramago ao «DN»

Por Carlos B. Esperança
"Não sou profeta, mas Portugal acabará por integrar-se na Espanha"
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A ESTIMULANTE ENTREVISTA de José Saramago ao Diário de Notícias, hoje [15 Jul 07], não decepciona. O mais notável ficcionista português, o Nobel do nosso contentamento, nunca desilude.
Mas uma coisa é gostar de o ler e, outra, diferente, concordar. Discordo da profecia da integração de Portugal em Espanha, não por nacionalismo, pecado que não cometo, mas por pragmatismo e convicção.
A geografia agrega-nos mas a história separou-nos e, por isso, a integração económica aprofunda-se mas persistem as diferenças culturais. Portugal é muito mais tributário da cultura francesa do que da castelhana e não creio que os portugueses nutram por Madrid mais afecto do que os catalães ou os bascos.
Sendo as coisas o que são, e os povos eles próprios e as suas circunstâncias, como diria Ortega Y Gasset, resta-nos a Europa cuja cidadania vem ao encontro de um país que viu na diáspora o seu destino e nunca temeu os grandes espaços, na certeza de que quanto mais europeus nos sentirmos menos espanhóis desejaremos ser.
Também por isto o meu europeísmo se aprofunda e me chama. É na Europa, herdeira do Renascimento, do Iluminismo, da Reforma e da Revolução Francesa que vejo o futuro de Portugal e dos portugueses, num projecto comum.
Na entrevista há ainda lugar para um olhar lúcido e magoado sobre medíocres censores como Santana Lopes e Sousa Lara, mais próximos dos Reis Católicos do que de Voltaire e Vítor Hugo.

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