26.5.07

CML – Falsos independentes

Por Carlos Barroco Esperança

DISSE UM DIA RAUL REGO, referindo-se a Mário Soares, de quem era indefectível amigo e correligionário, que quem está sempre de acordo não é amigo, é um satélite.
Mas estar sempre em desacordo não revela independência de espírito, talvez manifeste imaturidade ou culto da personalidade. Pode acontecer por vaidade, despeito e falta de convicções. Ou oportunismo.
Em política é preferível descobrir quem está mais próximo do que quem mais se afasta. A animosidade dos dissidentes traduz, quase sempre, a revolta de quem não conseguiu dentro do partido a vitória das suas posições ou ambições.
Há uma plêiade de independentes profissionais, com lugar cativo na comunicação social, prontos a apontar a mediocridade dos políticos e a acorrer pressurosos a integrar comissões de honra e empresas de consultores.
Alguns resguardam-se nos conselhos de administração das Empresas Públicas e fazem ciclos de nojo, até às eleições seguintes, enquanto os que se comprometem sofrem as vicissitudes eleitorais, os riscos das decisões políticas e a devassa da vida privada.
Quem vive a política não pode ser independente. Pode não sentir motivação para militar num partido, mas sentirá o apelo das ideias, do programa e práticas do partido de que se sentir mais próximo.
Sair de um partido e vestir o fato de independente, sem período de nojo, é uma forma de enganar eleitores e atrair cúmplices aflitos para exibirem a suposta superioridade moral.
Se um político destacado abandona o partido para abraçar um projecto independente é de um projecto pessoal que cuida. Nessas circunstâncias lembro-me sempre da jovem que entrou num autocarro cheio e desabafou:
- Já ninguém dá o lugar a uma senhora grávida!
Um cavalheiro, que logo lhe ofereceu o seu, ainda ripostou:
- Não se nota!
- É só há meia hora.

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