23.8.06

«De fonte segura disseram-me que...»

AS CONSIDERAÇÕES de carácter geral que Cintra Torres faz acerca da influência do poder político na RTP não causam espanto a ninguém, pois o que ele diz é exactamente o que o cidadão-comum pensa: os governos só não interferem na televisão pública se não puderem - e, neste caso dos fogos, até é bem provável que isso tenha sucedido.

Até aí, tudo bem; o problema só aparece quando ele lança acusações concretas que, além de serem em segunda-mão, não pode provar.

De qualquer forma, já se sabe há muito tempo que é mesmo assim que "a coisa funciona": ao abrigo da liberdade de expressão e do estatuto da classe, um jornalista pode "dizer o que lhe disseram" as fontes em quem confia.
A seguir, se necessário, ergue o escudo do segredo das fontes e dorme descansado.
A lógica parece-me perversa mas, pelos vistos, é essa.

Mesmo assim, não resisto a contar o que, em tempos, se passou com Mário Castrim quando um dos seus adversários asseverou que tinha ouvido dizer, acerca dele e de fonte segura, determinadas coisas:
O autor d' «O canal da Crítica» respondeu, na sua coluna do «Diário de Lisboa», algo como (e cito de memória):
«Agradeço que, por escrito, declare formalmente que me autoriza a divulgar tudo o que, de fonte segura, eu já ouvi dizer de si».
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(Transcrito no «ABRUPTO» em 24 Ago 06)
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NOTA: O problema aqui referido tem a ver com as graves afirmações de ECT na última crítica de TV no «PÚBLICO» - e que reafirmou, em directo, na SIC-N:
Segundo fontes em que tem toda a confiança, a RTP recebeu directivas directas do Gabinete do Primeiro-Ministro relacionadas com a forma de noticiar os fogos - nomeadamente os que, nessa altura, fustigavam áreas protegidas (Peneda-Gerês).
Perante a reacção da RTP, que pede provas, ECT alega que essa exigência (de provas) é muito grave... e argumenta com o segredo das fontes.