28.3.06

De calças na mão

DE VEZ em quando descobrimos que não gostamos mesmo nada que nos façam o que a gente faz aos outros. Pois é... são ordens, não é? As ordens são para se cumprirem, pois então, a lei também é para todos. Por isso é que é ceguinha, não é verdade?

Receia-se que dezena e meia de milhares de portugueses, maioritariamente de origem açoriana, se veja recambiada para as suas terras se não abandonarem o Canadá, onde muitos trabalhavam há anos e alguns até com filhos ali nascidos e impostos descontados todos os meses.

No memo dia em que púnhamos um ar condoído a falar destes açorianos, o SEF atirava a rede em Portalegre e, mais depressa do que os canadianos, vai pôr de regresso à miséria quem ali ficou agarrado às malhas da lei. E dias antes fora no Norte, e antes no Porto, sempre, sempre a cumprir a lei, que a lei é para se cumprir. claro está.

Até aqui, tudo bem. O que não percebo é como cada um deixou chegar a este ponto a sua situação e como os conselheiros sociais da nossa embaixada e dos consulados portugueses não se empenharam, em Ottawa e no Canadá, durante anos, para não sermos agarrados assim, de calças na mão.
--
«25ª HORA» - «24horas» 28 Mar 06

Etiquetas:

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A explicação para este deixa-andar (por parte dos principais interessados e das autoridades portuguesas) foi dada um dia destes, num telejornal, por uma correspondente no Canadá.

Dizia ela, por outras palavras, o seguinte:

«Os portugueses (imigrantes ilegais) estavam habituados a que, de vez em quando, houvesse amnistias e legalizações extraordinárias. Por isso, não se preocupavam com a sua legalização. Sempre foi assim... Só que desta vez não foi».

C.

28 de março de 2006 às 14:55  
Anonymous Anónimo said...

Julgo que o importante, agora, é fazer os possíveis para auxiliar estes nossos compatriotas numa situação que deve ser tremendamente desconfortável.

Mas talvez seja ainda mais importante meditar nas razões que levaram tanta gente a ficar nestas circunstâncias. Por que razão deixaram as suas terras para ir viver para tão longe, sujeitando-se à contingência de serem expulsos pelas autoridades de outro país? A resposta já a conhecemos de sobra : em Portugal não tinham (não têm) condições para uma vida minimamente decente.

E de onde partiu (fugiu) esta gente toda? Também sabemos : a maioria é oriunda dos Açores. Da região autónoma dos Açores. Autónoma, sim. Mas que diabo andaram a fazer as autoridades regionais dos Açores durante trinta anos? Não têm vergonha de ver os seus cidadãos a abandonarem a terra de origem para procurarem uma vida decente noutras paragens? Bem podiam meter a autonomia onde mais lhes doesse.

Pois é. Agora que se fala novamente na regionalização, é bom olhar para estes exemplos.

Jorge Oliveira

28 de março de 2006 às 17:09  

Enviar um comentário

<< Home