25.2.06

Como se m(altr)atam as boas ideias

1 - A TV, ontem, mostrou o que é necessário preencher para que um idoso-pobre obtenha o subsídio que o governo (e muito bem...) instituiu:

São 7 impressos e 13 formulários... Felizmente, há uma nota de humor (negro...) a amenizar "a coisa": o pacote é fornecido com um manual de instruções.
2 - Há cerca de um ano, uma porteira que eu conheço, pessoa idosa, doente, pobre e quase-analfabeta, quis pedir apoio judiciário para não ser despejada.
Acabou por desistir por não ser capaz de vencer (nem sequer de perceber!) a burocracia envolvida.
Foi posta na rua no dia 31 de Dezembro passado...

4 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Burns,

Eu disse que "conheço a senhora", mas não disse que estive com ela quando precisava de ajuda.

Entre inúmeras outras possibilidades, suponha-se:

Que ela mora longe;
que eu só a conheci depois disso;
que ela não quis comentar com ninguém o seu drama;

Etc. etc.

--
Nota: Olhe que não é correcto atuar (o verbo significa "tratar por tu") pessoas com quem não se tem confiança.

25 de fevereiro de 2006 às 17:15  
Anonymous Anónimo said...

O apoio judiciário rege-se por normas incompreensíveis e, mesmo que a pessoa tivesse preenchido e entregue os formulários, era bem possível que o apoio lhe fosse negado...
Quanto ao excesso da detestável burocracia, pode-se dizer parafraseando um autor brasileiro "é a parte que te cabe" neste país de esquemas onde há pessoas com bens patrimoniais e imóveis a receber rendimento mínimo.

25 de fevereiro de 2006 às 17:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Odete Pinto,

Um dia destes, relato aqui a minha saga para obter o "selo de residente" da EMEL (em 1998) e a sua renovação este ano.

Tenho andado a adiar, porque até me enerva só relembrar aquilo por que passei - simplesmente kafkiano.

25 de fevereiro de 2006 às 18:04  
Anonymous Anónimo said...

«DN» de hoje

Dinheiro a mais

Houve um tempo recente em que se ouvia com grande frequência que não se resolvem os problemas com dinheiro. Lamentavelmente, esta mensagem tem sido esquecida. Apesar de a cada história quotidiana nos confrontarmos com dinheiro a mais e organização e trabalho a menos.

Quando lemos o drama dos idosos que vivem nos últimos andares de prédios antigos, que hoje o DN conta, vem-nos de imediato à memória a iniciativa do Governo de criar o complemento solidário, antecipado na sua concretização, conforme foi anunciado na sexta-feira. A expressão pomposa designa um rendimento que vai ser dado a idosos que vivem com reduzidos recursos financeiros, quer isoladamente quer por via da sua família. A par disso, foram anunciados investimentos em "equipamentos sociais", leia-se edifícios.

As iniciativas são, obviamente, louváveis nos seus objectivos. Mas serão estes os instrumentos necessários ou suficientes para combater a nova pobreza, a dos idosos?

Mais do que dinheiro ou equipamentos sociais, as histórias de muitos idosos revelam uma solidão e abandono que só seriam resolvidos com muito dinheiro ou... com mais organização de entidades que já existem.

As autarquias dão um contributo, quando querem, muito importante na resolução desse problema. Assim como as instituições de solidariedade social. É aí que se deve centrar o apoio baseado nos recursos públicos.

Levar a vida até aos idosos prisioneiros da solidão, da doença ou de casas nos últimos andares em prédios antigos não se realiza com dinheiro ou com mais "equipamentos". Faz-se com pessoas. Pessoas que, na frieza da nomenclatura economicista, prestam serviços.

Essa lógica de prestação de serviços já está a ser adoptada pelo sector privado, dirigida a um segmento de pessoas com recursos elevados. Os condomínios para quem já se reformou, onde está disponível todo o tipo de serviços, são o exemplo mais simples. É esse também o caminho para apoiar quem não tem recursos.

O Estado, nas funções de solidariedade que os europeus querem que desempenhe, tem forçosamente de abandonar a lógica da distribuição de dinheiro. É a via de maior desperdício de recursos. Nunca haverá dinheiro que chegue para alimentar uma política de "toma lá e resolve os teus problemas de velhice na pobreza". Teremos apenas mais e mais histórias de sofrimento e suicídio.

Helena Garrido

26 de fevereiro de 2006 às 11:07  

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