30.12.05

"Post" aberto

COMO de costume aos fins-de-semana, aqui fica este espaço onde quem quiser poderá, em «Comentários», afixar o que entender.

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Editorial do Público:

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Pouco parece interessar que a Iberdrola seja liderada por um ex-ministro que, para além de desenvolver os negócios que ele próprio iniciou quando estava no poder, continue ainda a ter cara para se exibir como deputado da naçãoSe a decência fosse uma exigência nacional, a luta pelo controlo do poder na Galp Energia e na EDP não toleraria a existência de tantos jogos de bastidores, de suspeitas de pressões e de influências políticas ou de manobras de diversão para dar a um dos actores da peça o papel que não pode nem deve ter.

Mas, neste país onde, por tradição, os grandes negócios se fazem com o beneplácito do Estado ou não se fazem, o decoro de pouco vale.

Nas negociações labirínticas em torno das empresas do sector energético, até o princípio da mulher de César perdeu sentido: já ninguém parece, sequer, preocupar-se com as aparências.

Se não, vejamos: foi um ex-ministro de Guterres quem negociou com os italianos da ENI uma participação - generosa na Galp?
E então?

Foi esse ex-ministro quem trouxe para Portugal a espanhola Iberdrola, autorizando-lhe a compra de lotes de acções em empresas públicas que tutelava?Qual é o problema?

É esse mesmo ex-ministro que, depois de abandonar o Governo, passou a presidir a essa mesma Iberdrola? O que interessa?

É essa empresa que, ao deter mais de quatro por cento da Galp Energia, assumiu uma posição fundamental para se decidir se é Américo Amorim ou a ENI quem, no futuro, vai mandar na Galp? E daí?

É esse ex-ministro, ou alguém por ele indicado, que, por decisão do Governo, que é do seu partido, vai poder integrar o conselho consultivo da EDP, no qual poderá aceder a informação valiosa para orientar os destinos da Iberdrola? É a vida!

O facto de ser deputado da maioria e, por consequência, de poder aceder com maior facilidade aos círculos do poder político não torna a sua posição, no mínimo, incómoda? Meu amigo...

Se a decência fosse uma exigência nacional, não estaríamos a dissertar sobre as apostas da Betandwin ou as queixas dos sindicatos ao Presidente da República.

Um pouco mais de respeito pelas instituições e pela honorabilidade do Estado levar-nos-ia a tentar perceber por que é que a administração de topo da EDP vai ser demitida (ou se vai demitir) ou a perguntar como é possível que a Iberdrola, rival da EDP em Portugal e em Espanha, integre os órgãos sociais da empresa portuguesa.

Vão dizer que não ocupará cargos executivos, decerto.
Mas o simples facto de participar no conselho consultivo criado por vontade política do Governo para acolher de novo a empresa do ex-ministro no seio da EDP - recorde-se que a Iberdrola foi afastada dos seus órgãos sociais, depois de se ter provado a impossibilidade de manter uma parceria estratégica em Espanha - permite-lhe, pelo menos, ter acesso aos temas em discussão, às prioridades, da eléctrica nacional.

Se a decência fosse uma exigência nacional, haveria muitas vozes corno a do empresário Henrique Neto a denunciar a situação.
Mas, para além de uma ou outra referência velada em colunas de opinião nos jornais, tudo isto se passa sem comoção nem vergonha. Só os espanhóis da Cajastur, parceiros da EDP em Espanha e, por consequência, rivais da Iberdrola, manifestaram o seu desconforto com a estratégia do Governo.
De resto, pouco parece interessar que a Iberdrola seja liderada por um ex-ministro que, para além de desenvolver os negócios que ele próprio iniciou quando estava no poder, continue ainda a ter cara para se exibir como deputado da nação.

Não é ilegal, mas que é pouco decente, lá isso é.

31 de dezembro de 2005 às 15:34  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

O velho, o rapaz e o burro

Como não podia deixar de ser, as férias de José Sócrates - ora no Quénia, ora nos Alpes Suíços -, prestam-se a dois géneros de comentários totalmente contraditórios:

Por um lado, dir-se-á que «ele não é mais nem menos do que os outros portugueses todos e, se as paga do seu bolso (e com dinheiro que ganhou com o seu trabalho) ninguém tem nada com isso». E é a pura verdade.

Por outro lado, também não faltará quem diga que, «estando o país a atravessar dificuldades, e sendo precisamente ele quem exige sacrifícios ao povo, deveria ser o primeiro a dar o exemplo de contenção». E é também a pura verdade.

Então em que ficamos?

O que sucede é que a realidade é multifacetada, pelo que ambas as argumentações têm lógica e são aceitáveis. Tudo depende, muito mais do que do posicionamento político de cada um, da sensibilidade para com as coisas da vida.

E é precisamente esse aspecto da sensibilidade que me faz pensar nas pessoas que estão num restaurante a comer do bom e do melhor quando aparece um pedinte com fome.

Claro que ela diz para si mesma que «não é mais nem menos do que os outros portugueses todos e, se paga a refeição do seu bolso (e com dinheiro que ganhou com o seu trabalho), ninguém tem nada com isso».

E, mais uma vez, é a pura verdade. Só há um pequeno pormenor: é que ela deverá ser A ÚLTIMA PESSOA NO MUNDO a dizer ao pobre que «coma menos, pois está gordo demais»...

31 de dezembro de 2005 às 20:48  

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