27.9.05

«Tira-Linhas»

A Tekno-Maxyma, a Mycro-Teknika, a Makro-Teknyka e a Tekno-Teknyca são algumas das muitas empresas portuguesas onde o Eng. Estultício se sente como peixe na água, pois o lema delas todas é
PROGRESSO, SÓ O ESTRITAMENTE INDISPENSÁVEL! - nada de Formação, nem de Modernices (como Internetes, etc.).

No entanto, para seu desespero, o Progresso vem às vezes ter com ele.

Nessas alturas, recorre ao seu filho Serapião.

A história «Tira-Linhas», que se pode ler em «Comentário-1», foi aqui metida por duas razões:

Primeiro, porque a empresa do Grande-Engenheiro é uma daquelas onde os empregados só pensam em reformar-se.

Depois, porque o Serapião recorre a um pequeno truque, já aqui referido a propósito das tampas-de-esgoto.

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NOTA: Muitas outras aventuras (destes e de outros patuscos) podem ser lidas em
www.janelanaweb.com/humormedina

2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

TIRA-LINHAS

Um dia destes recebi um telefonema do Serapião. Pedia-me que, quando eu pudesse (mas com alguma Urgência), passasse por casa dele ou nos encontrássemos na minha
(ou em qualquer outro lugar onde houvesse um computador).

Evidentemente que acedi, curioso, e até lhe pedi logo que me adiantasse qual o assunto da nossa futura conversa.

E vim a saber, para meu grande espanto, que queria falar comigo acerca das «realidades do mundo empresarial»!

Acontece que ele anda a estudar para engenheiro, e queixa-se de que a ligação da Universidade às empresas não é lá grande coisa. Isso nunca foi novidade para mim, e nem agora me preocuparia muito se não tivesse acontecido o que ele me passou a contar:



***

A Tekno-Teknika, a retrógrada empresa do seu pai, ia ser alvo de uma auditoria, e os inspectores poderiam querer saber como é que estava a ser gasto o dinheiro para formação que o Fundo Social Europeu disponibilizava.

Ora o certo é que esse assunto nunca foi particularmente grato ao Grande Engenheiro, pelo que a formação, para aqueles lados, é pouca ou nenhuma e cada funcionário aprende o que pode e como pode.

Mas - e aqui é que estava o problema - o Estultício acenara ao filho com uma boa maquia em troca de ele lhe fazer um relatório (favorável, evidentemente!) sobre o assunto...

O rapaz, pouco à-vontade e sentido-se de certa forma «comprado», lá foi à empresa, falou com as pessoas, e tirou as conclusões que se adivinham quando se sabe que o lema da casa é «Progresso, só o estritamente indispensável!»...


***

E foi assim que, depois de a avó Elisa me abrir a porta (e, sorridente, me mandar entrar), fui dar com o nosso amigo no sótão, sentado de costas para o computador, a trincar amendoins e a atirar setinhas para o tal alvo que tem a cara do Bill Gates. E - via-se-lhe no rosto - muito frustrado por não saber o que escrever.

Mas, de súbito, deu uma gargalhada, rodou sobre si mesmo, atacou furiosamente o teclado, deu uns estranhos comandos, e desatou a escrever copiosamente ignorando a minha presença que, afinal, ele mesmo solicitara!

Estranho... No entanto, como vi que ele estava inspirado, resolvi afastar-me discretamente, parecendo-me até que nem deu pela minha saída.
Só que, no dia seguinte, ligou-me para o telemóvel:

- Desculpe lá o que se passou ontem, mas já acabei o trabalho e precisava da sua opinião. Vou enviar-lho pela Internet. O ficheiro tem um pequeno truque, que lhe explico se prometer que não diz nada ao meu pai.

Não percebi a conversa, mas prometi, evidentemente! E, como até estava perto da casa dele, foi escusado enviar-me o e-mail: resolvi entrar, subir ao sótão, e ver logo tudo com ele de uma vez.


***

Ora, aqui, vai ser preciso fazer um pequeno parêntesis:

Se alguém abrir uma folha de processamento de texto e começar a escrever... o texto aparece.

Mas, agora, imagine que o selecciona e muda a sua cor para branco.

Surpresa! O texto, que continua lá, ficou invisível!

E, evidentemente, pode-se mudar a cor para outra qualquer e o texto escondido aparece, nessa outra cor, como num passe de mágica. Já experimentei isso com pessoas ignorantes e o efeito tem um sabor a ilusionismo.

Pois foi a esse truque que o Serapião recorreu para conseguir escrever o texto que o pai lhe pediu. Fez o seguinte:

Começou por escrever maravilhas inventadas - e que lhe davam voltas ao estômago - sobre a inexistente formação na Tekno-Teknika.

Em seguida abriu, entre as linhas desse texto, outras tantas e, nessas, desatou a escrever o que de facto lhe ia na alma. Mas a branco!

Com um dos tais comandos que só ele sabia, era então possível passar de um texto para o outro e, com a ajuda de umas boas gargalhadas, compensar, nas linhas pares, o efeito nefasto dos disparates que fora forçado a escrever nas linhas ímpares!

Estava ele a acabar de me explicar a brincadeira, quando apareceu o Estultício, subindo as escadas pachorrentamente.

- Ora vivam! E tu, vê lá se escreves umas boas patacoadas, que o importante é que os idiotas se convençam de que o dinheiro está a ser bem aplicado!

O Serapião não respondeu logo. E ainda vim a saber uma coisa deliciosa:

O Grande Engenheiro alugara computadores para todos os funcionários, mas só para o dia da auditoria! E o Serapião deveria lá ir, de manhãzinha, ligá-los, fazendo com que exibissem páginas fictícias! Os empregados, coitados, entrariam no jogo, fingindo trabalhar!

Mas, como eu estava a contar, o Estultício aproximou-se do monitor e, deliciado, começou a ler o que o filho escrevera e estava visível.

- Muito bem, rapaz! Já fiquei a par, e acho que está um texto ímpar!

Achou muita graça ao trocadilho que ele próprio fez, mas nunca chegou a perceber o comentário do Serapião:

- Pois é, pai, acho que está bom. Especialmente para quem o souber ler... "nas entrelinhas".
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www.janelanaweb.com/humormedina/serapiao5.html

27 de setembro de 2005 às 10:34  
Anonymous Anónimo said...

CMR,

Por acaso a história não é piada a uma empresa "nossa conhecida" (a famosa ex-«maior-empresa-portuguesa-do-ramo-electrótécnico-deixa-me-rir»?

:-)

R.

27 de setembro de 2005 às 10:44  

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