26.9.05

«Dicas» com mais de 2000 anos...

AO MESMO tempo que nos diz que a reforma dos militares e dos funcionários públicos era, na sua época, aos 55 e 60 anos de idade (para os que lá chegavam, é claro!), Séneca faz um comentário curioso acerca do facto de, à hora da morte, muitas pessoas dizerem que gostariam de viver mais tempo:

«Mas porquê e para quê» - pergunta ele - «se, durante a vida, não fizeram outra coisa senão desperdiçar tempo?».

Claro que isso remete-nos para o velho problema do aproveitamento do tempo e para a possibilidade que cada um tem (ou não tem) de poder fazer com ele o que mais prazer lhe dá.

A preocupação actual pelo prolongamento da idade-da-reforma tem a ver com isso: o facto de nos estarem a limitar a possibilidade de, finalmente, podermos gozar a vida durante alguns anos... antes da chegada da «velha senhora».

De facto, assim é, na generalidade dos casos; mas não é triste que assim seja?

Por que diabo é que o trabalho há-de ser um sacrifício de que só pensamos em livrar-nos - como a generalidade dos sindicalistas defende com unhas e dentes?!

Curiosamente, conheço muitas pessoas que, ao invés, estão preocupadas com o facto de serem obrigadas a reformar-se, pois têm a felicidade de, no dia-a-dia, exercer uma actividade que lhes dá prazer; o prolongamento da idade-da-reforma, para elas, é uma verdadeira bênção!

O certo é que ter tempo livre e não saber o que fazer com ele é tão dramático como o inverso...

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Isso é verdade. Mas acho que o que muito contribui para essa situação tem a haver com o próprio ambiente laboral. Há muitas profissões onde o trabalho é penoso mas o que mais tenho visto é que há muitas actividades onde não é o trabalho em si que é penoso mas sim questões paralelas ao trabalho, de relações humanas, de cultura de empresa, de carreirismo e competição sacana, de ambiente ergonómico que tornam o tempo dispendido no emprego muito penoso. As pessoas passam o tempo a contar os dias para chegarem as férias, o fim-de-semana e a reforma. Não me choca nada que um operário ou quem trabalhe em permanente pressão anseie pela reforma quanto antes, nem que um individuo que desenvolva trabalho intelectual e criativo sem pressas e em boas condições de concentração, com gabinete próprio e com boas relações humanas não queira outra coisa. O que verifico ser extraordináriamente frequente é que grande parte da actividade laboral não chega a ser tão penosa nem dura como isso mas conjuga-se uma especie de contaminação colectiva em que leva as pessoas a sublimarem a frustação em questões e quezilias paralelas piorando ainda mais as condições e ao cabo de poucos anos não querem outra coisa senão a reforma. Aí sim ficam com no vazio, não fizeram nada antes nem sabem fazer nada depois.

27 de setembro de 2005 às 01:50  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Tem toda a razão.

Eu sempre adorei a minha «Profissão», cheguei a ter problemas no «Trabalho» e acabei a odiar o «Emprego»...

27 de setembro de 2005 às 08:51  
Blogger António Viriato said...

Tema muito oportuno e autor bem escolhido. Primeiro, porque meditou bastante nele, depois porque sobre ele escreveu páginas admiráveis. Séneca era sábio, ainda que incorente, como rezam algumas críticas de seus coetâneos.Há um grande desperdício do tempo enquanto se tem todas as possibilidades de o aproveitar. Todavia,à medida que o horizonte se vai encurtando, começa a nascer em nós um renovado apreço pela sua duração e o seu aproveitamento, inevitavelmente, melhora. Mas, como sabemos desde Santo Agostinho, não há nada mais subjectivo do que o tempo, facto que Einstein nos haveria de lembrar, com a anedota da hora, que parece uns escassos minutos, ao lado da garota atraente, e dos segundos sentidos como uma eternidade, quando nos sentamos sobre uma placa eléctrica de fogão...
Quanto mais velhos, mais estimamos o tempo, porque ele se vai tornando um bem escasso, aqui, por uma vez, em acordo com a «ciência económica».
Uma nota ainda : reparem no erro comum de dizer isto não tem nada a «haver» com aquilo. Há vinte anos este erro não era praticado, muito menos por pessoas com elevada escolaridade. Hoje, é comum entre licenciados. Que fazer perante tal : continuar a considerá-lo erro ou absolvê-lo, porque entretanto se generalizou ?

28 de setembro de 2005 às 22:23  

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