26.8.05

A propósito de «meter água»...

«Lá-lá-láááá... lá-lá lá-lá lá-lá lá-láááá...» - se bem se lembram, é assim que começa o «Speedy Gonzalez», o hino dos rápido-impunes de todo o mundo "civilizado"!

- Hey, Rosita, come quick!
HOJE, tivemos de gramar (desculpem, mas é o verbo certo) todo o noticiário da TVI com a habitual voz cavernosa - de filme-de-terror - sempre a interromper:
«Individualidade portuguesa apanhada a conduzir a 200 km/h! Para ver já à frente, neste telejornal!»
Ora, quando eu estava à espera que me aparecesse um deputado ou um secretário-de-Estado do género «pintas-acelera», eis que me sai na rifa um pachorrento juiz do Tribunal Constitucional, cujo motorista se desculpou com a pressa de chegar não se sabe onde... com 3 horas de antecedência.
Claro que nem pagou multa nenhuma, nem viu os documentos apreendidos, nem nada que se pareça.
O responsável da BT lá da zona, pelos vistos a única pessoa com a cabeça no seu lugar, explicou:
«Claro! Tratou-se apenas uma questão de bom-senso!».
Já que não nos podem poupar à vergonha daquilo que todos sabemos, ao menos a TVI bem nos podia poupar ao óbvio...
-oOo-
Curiosidade: Em tempos que já lá vão, o carro em que seguia Américo Thomaz foi mandado parar, e o motorista que o conduzia multado por causa de uma infracção qualquer; pois o Senhor Presidente teve uma reacção feliz e de que ainda hoje se fala:
Mandou dar um louvor ao autuante por ter cumprido o seu dever em condições difícieis.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Se fosse o Mário Soares, teria dito:
- Ó senhor guarda, desapareça!

C.E.

26 de agosto de 2005 às 22:20  
Blogger JLL said...

O quê???? Passar uma multa a um Juiz do tribunal constitucional?

Mas está tudo doido neste país?

Desde quando um membro do sistema executivo havia de autuar um membro do sistema judicial? Tenham juízo...

Lembrem-se que um estado democrático se baseia na inter-dependência dos três ramos.. hãããã... pois, hmmmm, queria dizer independência.

Há, pois, sim... bem, desculpem lá,... eu já saio... não façam caso tá?

26 de agosto de 2005 às 22:40  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Foi EXTREMAMENTE penoso ver (e ouvir...) a entrevista que a TVI fez ao dito juiz - que parecia estar a gostar da figura que estava a fazer!

Melhor fez o oficial da GNR, que não deu a cara à TV, e mandou dizer o que neste "post" se transcreve:

«Não fez nada, porque tem bom-senso» - Ora toma e embrulha!

26 de agosto de 2005 às 22:44  
Blogger JLL said...

Queria só acrescentar uma coisa < agora num tom mais sério >.

A criatura, se fosse homem tinha era:
1. Assumido que ia em excesso de velocidade;
2. Pedido desculpa, só um "Peço desculpas pelo sucedido."
3. Afirmado que este não era um comportamento aceitável pelas regras da sociedade e que devia sofrer a penalização definida por lei;
4. Pagava a multa, ali no lugar, e acrescentava: "Gostava com isto de dar o exemplo de como se deve agir civicamente".

Não sendo assim, não é homem, é uma besta.

Mas que raios? Qual é a vergonha de apanhar multas? Alguém que leia isto acha que é vergonhoso, que destroi carreiras?

<...>era só, obrigado.

26 de agosto de 2005 às 22:57  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Nestas coisas escritas, não se sabe com que "tom" as frases são proferidas.

Não sei, pois, o que queria dizer o GNR com "bom senso", mas interpretei a frase como uma tirada de humor subtil, vinda de alguém que conhece a vida, que a vê com o "cinismo necessário à sobrevivência", e que sabe que habita numa terra de doidos em que a lei é uma mera "sugestão".

Imagino que, no fim, o homem (porventura um daqueles militares batidos que já viram de tudo na vida e que o Graham Greene tão bem retrata), tenha atirado uma baforada de fumo à cara do adjunto, dado uma boa gargalhada, e desabafado:

«Olha, meu filho, deixa andar! Eles que se f**** todos!...»

26 de agosto de 2005 às 22:59  
Anonymous Anónimo said...

Se bem me lembro,
parafraseando o saudoso Vitorino Nemésio, foi por esta auto imunidade e outras, que o antigo regime acabou em 25/4/74

27 de agosto de 2005 às 01:47  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Al,

E estes cavalheiros (juízes, militares, políticos, etc) são incapazes de se aperceber como uma coisa tão simples como uma multa de trânsito aq ue se furtam pode abalar o prestígio de uma instituição.

A menos que se pense como o homem da GNR deve ter pensado:

«Olha, que se lixe! Deixa andar, que não há nada a fazer com esta gajada...»

27 de agosto de 2005 às 15:58  

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