24.8.05

«A falta que faz um nº 10!»

(Crónica de Alfredo Barroso no «DN» de 17 Ago 05, aqui publicada com sua autorização)

COM os preços do petróleo a treparem por aí acima, o País a arder intensamente de norte a sul, a "matança" nas estradas a prosseguir paulatinamente, a Ota e o TGV a balançarem entre o sonho e o pesadelo, a pré-campanha eleitoral para as autarquias a ser dominada por "dinossauros" e "suspeitos", a crise económica e financeira a agravar-se cada dia que passa - confesso que a minha disposição para me entreter com o pontapé na bola esmorece a olhos vistos.

Ao invés do que costumam dizer os crentes "hora a hora, Deus piora".

Já há quem proponha que se apague "a luz ao fundo do túnel", para poupar energia. E até há quem diga que "isto só vai lá" com uma Thatcher ou um Perón.

No fundo, o que faz falta à vida política portuguesa - sobretudo aos nossos dois maiores partidos (o do Governo e o da oposição) - é exactamente aquilo que faz falta ao nosso futebol - sobretudo às equipas que o dominam, rotativamente, há várias décadas um Travassos, um Hernâni, um Coluna, um Jaime Graça, um Rui Costa, um Deco. (...)

(Texto integral em «Comentário-1»)

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A FALTA QUE FAZ UM Nº 10!

Com os preços do petróleo a treparem por aí acima, o País a arder intensamente de norte a sul, a "matança" nas estradas a prosseguir paulatinamente, a Ota e o TGV a balançarem entre o sonho e o pesadelo, a pré-campanha eleitoral para as autarquias a ser dominada por "dinossauros" e "suspeitos", a crise económica e financeira a agravar-se cada dia que passa - confesso que a minha disposição para me entreter com o pontapé na bola esmorece a olhos vistos.
Ao invés do que costumam dizer os crentes "hora a hora, Deus piora". Já há quem proponha que se apague "a luz ao fundo do túnel", para poupar energia. E até há quem diga que "isto só vai lá" com uma Thatcher ou um Perón.

No fundo, o que faz falta à vida política portuguesa - sobretudo aos nossos dois maiores partidos (o do Gover-no e o da oposição) - é exactamente aquilo que faz falta ao nosso futebol - sobretudo às equipas que o dominam, rotativamente, há várias décadas um Travassos, um Hernâni, um Coluna, um Jaime Graça, um Rui Costa, um Deco.

Em suma: um verdadeiro coordenador e organizador de jogo, com talento e criatividade às carradas, que seja uma referência para a equipa, que pense bem e execute ainda melhor, que seja capaz de pautar o jogo e impor-lhe o ritmo, com passes bem medidos e súbitas mudanças de flanco - qualidades bastante raras nos tempos que correm, só ao alcance de quem dispõe daquela visão dos acontecimentos a que hoje se chama "leitura de jogo", certamente em homenagem ao aumento da literacia e à dimensão das bibliotecas.

Thatcher e Perón são referências que abomino. Estão nos antípodas do autêntico playmaker, do verdadeiro "número 10", que faz jogar a equipa e é parte integrante dela. Ainda assim, os seus émulos portugueses, ou não chegaram aos calcanhares do modelo - caso da doutora Manuela Ferreira Leite em relação à Dama de Ferro - ou não passaram de caricaturas - softcore, no caso do general Eanes; hardcore, no caso do doutor Santana Lopes - em relação ao plebiscitado ditador das pampas. Dita-dura e "dita branda" não se coadunam, aliás, nem com as regras do jogo político democrático, nem com espírito de uma verdadeira equipa de futebol. De resto, nem Thatcher, nem Perón, nem os seus tão inábeis émulos lusitanos alguma vez se distinguiram pelo "fino trato de bola e bom jogo sem ela", para citar uma feliz expressão do jornalista António Tadeia, um dos melhores comentadores da imprensa desportiva portuguesa. Não é "número 10" quem quer.

A "crise de vocações" para desempenhar as funções de playmaker é tão evidente e tão grave na política como no futebol. É um triste sinal dos tempos que hoje seja tema de discussão, em Portugal, tanto a ausência de criatividade e de estofo, na política, como a escassez de autênticos "números 10", no futebol. E depois ainda há quem lamente que sejam "veteranos" os únicos candidatos credíveis à Presidência da República. O certo é que, até agora, ainda não apareceu mais ninguém com credenciais à altura. Também no futebol não surgiu um sucessor à altura do Rui Costa, que ainda joga no Milan. É claro que "temos" o Deco, mas esse é naturalizado e já não mora cá, joga no Barcelona.

A figura do "médio-centro atacante", ou do "interior armador de jogo", como se dizia há meio século, está em crise em toda a parte. António Tadeia diz mesmo que "há três tipos de 10 no futebol europeu o 6, o 8 e o 9,5". Ou seja: já não há "número 10". O "9,5", que nem sequer aparece nas camisolas, lembra-me a anedota do cábula no exame de Anatomia. O professor perguntou-lhe o nome daquele ponto do bolbo raquidiano em que reside o comando dos movimentos respiratórios. Não sabia. Um colega soprou-lhe, baixinho: "Nó vital." E o cábula, cheio de descontracção, respondeu: "Nove e tal, quase dez." Assim vai o futebol. Assim vai a política. Tanto em Portugal como lá fora. Nem é preciso ser especialista para se perceber a imensa falta que faz um verdadeiro "10".

Alfredo Barroso

24 de agosto de 2005 às 21:08  
Anonymous Anónimo said...

Aqui está um texto CINCO ESTRELAS!
O do "DN" de hoje tb está bom.

C.E.

24 de agosto de 2005 às 21:41  
Anonymous Anónimo said...

Faltam "10", de facto.

Mas olhe que se calhar já só faltam os "1"!

E.R.R.

25 de agosto de 2005 às 08:15  
Anonymous Anónimo said...

Gostava de o ler no Expresso. Só tontos como o Arquitecto Saraiva é que podiam mandá-lo embora!
Vejo que, com mestria, consegue meter umas "buchas" de política em crónica de bola.
Bem-haja!

J.Ramiro M.

25 de agosto de 2005 às 12:21  

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