17.3.05

O Código... da Treta


Mais uma vez a entrada em vigor do novo Código da Estrada vai ser adiada.

Mas não adianta chorar por isso, pois ele não vai alterar grande coisa:

No essencial, vai aumentar a penalização de infracções que já são penalizadas hoje... mas que ficam impunes.

Em Macau, p. ex., as multas que não são pagas vão para os locais de Inspecção Periódica Obrigatória, de onde os carros não saem sem terem tudo regularizado (*).

Por cá, o melhor que a cabecinha do legislador destilou... foi aumentar o prazo de prescrição de 1 ano para 2!!!

*

(Ver também os dois primeiros textos em "Comentários")

--

(*) Pelo menos, era assim quando eu lá estive, ainda durante a administração portuguesa

3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

«Tolerância... Zé!»

Se há coisa que me tem feito pensar é a expressão "tolerância zero" !

Tentando .arrumar ideias: em Portugal, agora e em determinadas zonas bem delimitadas e definidas, os automobilistas não podem fazer asneiras.

Será o mesmo que dizer que em todas as outras zonas do país... bem... mais ou menos... tal vez... conforme...

Tudo bem. Não há nada como a gente saber as regras e poder contar com os compinchas que avisam com os faróis quando vem a polícia, muito especialmente se se acabou de roubar um carro...

Mas, assim sendo, deverá ir-se até ao fim e estipular claramente quais as zonas que levam outras pontuações e indicá-las claramente nos mapas das estradas: teríamos, assím, zonas com tolerâncía 1; 2,87; -10; ¾, P; 53...

Mas sempre era melhor uma tolerância em "raiz quadrada":

Essa, sim, seria uma solução radical!

***

De qualquer forma, vendo bem, é o próprio conceito de "acidente" (por definição algo de "imprevisível") que está em causa.

Ora vejamos:

Um dia destes anunciou-se uma chuva de meteoritos. Se um deles me tivesse caído na cabeça indo eu a guiar, não havia dúvida nenhuma: era um verdadeiro acidente. Mas haveria decerto um patusco que abrandaria só para ver a cena. Provocaria uma bicha de 10 km e 20 choques em cadeia...

Poderia falar-se, neste segundo caso, de "acidentes"?!

***

Se eu, em dia de tempestade, me meter à estrada sem tra vões e com pneus carecas e for parar à horta mais próxima... tive, de facto, um acidente?!

***

Em tempos que já lá vão houve um instrutor e um examinador que me deram como "apto para conduzir " - mesmo um Ferrari, se o apanhasse à mão. Eu nunca .tinha guiado de noite, nem com chuva, nem com nevoeiro nem a mais de 40 à hora. Quando, no dia seguinte, fui parar à valeta, acham que tive um acidente?

***

Esta va eu com estes pensamentos em voz alta quando um amigo meu (que sofre muito com as estatísticas que nos põem na cauda da Europa) me ouviu e exclamou: «Boa! Vendo a coisa por esse prisma... afinal não estamos tão mal nas estatísticas de acidentes!»

***

Há pouco tempo fui até Espanha de carro. Estava com algum receio, pois ia fazer uma viagem grande e não conhecia estradas nem hábitos de condução.

Procurei informar-me: «Tenha cuidado!» Rezava, com candura inesperada, o texto de um guia turístico. «Os espanhóis guiam muito mal!».

E foi assim que, durante uma semana com o coração nas mãos, corri o país de Norte a Sul. Mas, para minha máxima surpresa (acreditem ou não) ao fim de oito dias e 1500 km por montes, vales, aldeias e cidades, ainda não tinha visto um único acidente!

"Não pode ser !" - pensava eu de regresso a Portugal e à vista de Badajoz.

Pois foi nessa altura que se deu o que naquela altura parecia já impossível: um carro de rodas para o ar, acabadinho de capotar.

Parei e corri para ele. Esperava-me uma das maiores surpresas da minha vida.

Saindo de lá de dentro, um pouco tonto mas ileso, o meu vizinho e amigo Manuel de Sousa. que fora nesse dia a Badajoz comprar caramelos e encher o depósito!


CMR- EXPRESSO, 28 Nov. 1998

17 de março de 2005 às 14:03  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

«"Tolerância" vem de "tolo"?»)

I

Há algum tempo, em pleno Alentejo, circulando numa estrada recta, larga e desimpedida, fui multado por ir a pouco mais de 90 km/h.

Era uma zona de "Tolerância Zero" e eu sabia disso.

Não posso portanto queixar-me (nem o faço) - até porque o que se seguiu teve a sua graça:

Um pouco mais à frente a polícia mandou-me parar e pude assistir à cana de um pobre guarda, encalorado, a passar uma "longa multa", toda manuscrita, em cima do volante da sua viatura, suspirando pelo dia (que, pelos vistos, ainda vai tardar) em que a informatização ali chegue!

II

No dia 11 de Setembro de 2000, uma reportagem de televisão mostrava uma série de jovens "a acelerar" nas noites e nas vias-rápidas de Lisboa e arredores.

Pudemos até ver um, a 268 km/h, na Ponte Vasco da Gama.

Ele sabia que era procedimento ilegal (a corrida e a tralha com que artilhou o carro para a "habilidade"), mas teve a gentileza de nos informar, com um sorriso maroto, que a polícia o "não chateava".

Na mesma reportagem, a própria Polícia confirmava-o, queixando-se de falta de meios.

Mas a cena mais saborosa foi quando a jornalista perguntou ingenuamente ao "acelera" se não achava que aquilo era perigoso para os outros condutores...

«Não, eles desviam-se para a gente passar» - Foi a resposta.

Quem sabe se, entre os que se afastam, não estará o tal esforçado guarda que encontrei a caminho do Alentejo?

EXPRESSO - 13 de Out 2001

17 de março de 2005 às 14:05  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

19 Mar 05:
Afinal já não vai ser adiado.
Ainda bem.

Vmos lá ver se o Governo consegue, depois, o mais difícil:

Pôr as forças de segurança (e, eventualmente, os tribunais) a fazer para que lhes pagamos: FAZER CUMPRIR A LEI

19 de março de 2005 às 14:48  

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